Jardim

Pretendia aproveitar ao máximo aquele sol por isso saí para o exterior (não iria passar aquele dia fechada dentro de quatro paredes). Fui até ao jardim, sentei-me na relva e peguei no meu ipod, pús os fones nos ouvidos e fechei os olhos enquanto ouvia música e sentia o sol aquecer-me.

Estava farto daquele sítio por isso decidi-me pôr a andar ou pelo menos ir a um espaço mais livre. Aí, cheguei ao tal espaço, um grande jardim que estava completamente vazio, à excepção de uma bela gaja (pelo menos parecia) de longos cabelos morenos. Olhei-a de alto a baixo enquanto ela ainda não percebera que eu a estava a ver, embora provavelmente ela fosse alpha, e agarrei no meu telemóvel, fingindo-me distraido, e andei até 'sem querer' tropeçar nela.
-Ups, desculpa desculpa! - apressei-me a dizer e a ir ter com ela - Estás bem?

Estava ali muito bem e muito sossegadinha quando senti algo embater em mim. - Au... - murmurei e olhei o rapaz. - Não faz mal... e estou bem...- disse-lhe - Mas devias ter mais atenção por onde andas. - disse.

Esforcei-me pra não me rir da sua atitude.
-Oh, desculpa - fiz beicinho e aproximei-me dela - Não foi de propósito! Juro! - mentira mentira mentira acrescentei mentalmente. sorte a minha que eu era um grande mentiroso.

Revirei os olhos mentalmente e olhei-o. - Está bem, não faz mal. Só não sabia que eu era assim tão invisível para não me veres. - disse encolhendo os ombros. - Estás desculpado.

Sentei-me ao pé dela, sem autorização.
-Oh, tu não és nada invisivel - consolei - Estava era ocupado a mandar mensagens, mas tu és do mais vísivel que se possa ter... - nem imaginas o quanto.

Afastei-me um pouco quando ele se sentou ao meu lado. - Fico contente por saber isso. - disse sorrindo levemente. - Já estava a ficar assustada.

Aproximei-me devagarinho dela.
-Então, deixas-me pagar-te um café como recompensa? - convidei e estiquei o braço para que ela pudesse enrolar o seu no meu.

- Sim. - voltei a sorrir e entrelacei o meu braço no seu. - Chamas-te...? - perguntei quando nos levantámos.

-George. - respondi com um sorriso e dirigimo-nos a um café não muito longe dali. Sentei-me numa mesa e puxei o banco à minha frente para que ela também se pudesse sentar, e chamei um empregado. Enquanto ele não vinha, reparei num homem que não parava de olhar para nós.

Sorri. - Eu sou a Trixie. - disse depois de ele me dizer o seu nome. Assim que chegámos ao café sentei-me no banco à sua frente e reparei no seu olhar fixo em alguém. Tentei seguir o seu olhar. - Que se passa? - perguntei.

Apontei discretamente com o queixo para o homem.
-Conheces? - perguntei tentando que ele não percebesse. A sério, eu não era muito assustadiço, mas aquele gajo assustava-me a sério.

Olhei discretamente para onde ele apontou. - Não... - disse encolhendo os ombros e voltando a olhar para ele. - Vou só à casa de banho. Já volto. - sorri e levantei-me. Entrei na casa de banho deixando a porta fechar-se atrás de mim, quando fui para lavar as mãos alguém entrou na casa de banho, dirigi o meu olhar para a porta e vi o homem que estava lá fora no café. - Olá...- disse ele enquanto começava a aproximar-se de mim, arregalei os olhos e institivamente dei uns passos para trás. - O que quer de mim? - perguntei a medo. - Sabes bem o que quero... - respodeu-me ele com um sorriso perverso estampado no rosto. Engoli em seco e tentei escapar-me dali mas fui agarrada pelos seus braços que me prenderam contra a parede. - Large-me! - gritei tentando empurrá-lo o que fez com que ele me agarra-se com mais força. Enquanto uma das suas mãos me agarrava comecei a sentir a outra percorrer-me o corpo e descer até ao botão das minhas calças. - Largue-me!! - voltei a gritar enquanto tentava dar-lhe pontapés para conseguir afastá-lo.

-Está bem... - afirmei e não tirei os olhos do homem, que por sinal não tirava os olhos dela. Entretanto o empregado chegou e eu dirigi o olhar para ele, enquanto fazia os pedidos. Ainda com um sorriso na cara, quando o senhor se foi embora, voltei a desviar o olhar para o homem que já não estava no seu lugar. Olhei em volta, procurando-o nalgum sítio, no entanto ele desaparecera mesmo. Se calhar foi embora. pensei e suspirei de alívio, encostando-me ao banco, já bem mais aliviado, esperando Trixie que nunca mais aparecia. Comecei a ficar novamente preocupado e levantei-me dirigindo-me à cozinha, escondendo uma faca no meu bolso. Encostei-me à porta, para ter a certeza que era algo, e as minhas suspeitas foram confirmadas quando ouvi gritos da rapariga. Abri a porta sem pensar e atirei-me ao homem, dando-lhe um murro ou dois - Largue-a! - gritei e de repente ele tirou uma arma branca do seu bolso.

Ele continuava a agarrar-me e eu continuava a sentir as suas mãos nojentas pelo meu corpo. Enquanto me debatia para me soltar ouvi a porta da casa de banho abrir-se e o George vir na direção do homem dando-lhe socos. Este tirou uma arma branca do bolso fazendo-me estremecer quando a encostou ao meu pescoço. - Não sei se me apetece largá-la... logo agora... - disse o homem enquanto fitava o rosto de George. Engoli em seco e fechei os olhos cheia de medo do que poderia acontecer. - É melhor ires embora... - murmurei para o George, não queria que nada lhe acontecesse por minha culpa.

Soltei uma gargalhada, fingindo-me calmo, e tirei a minha faca do bolso.
-Acha que é o único? - perguntei com um tom irónico e manti-me a distância dele - Se eu fosse a sí, largava-a. Pode haver por aqui uma luta sangrenta. - avisei com uma voz rouca. Vêem? Vêem? É por estas e por outras que eu não me dou com gajas. Só trazem problemas!

Voltei a engolir em seco quando o George tirou também do bolso uma faca. - Pois pode... e é melhor largares isso se não queres ver o sangue da tua amiga... - respondeu o homem e nesse momento pressionou com mais força a faca no meu pescoço.

Engoli a seco e olhei em relance para a faca. Não sabia o que fazer, nunca tinha realmente tido muita aventura na vida. Eu era apenas um miudo entre muitos, não um abandonado que matava pessoas, apesar de não ter quase respeitado regras. Olhei mais uma vez para o homem e corri até ele, não lhe dando tempo para fazer mais nada, senão ser esfaqueado três fezes na lombar.

Fiquei complemente assustado quando George veio até ao homem espetando-lhe a faca, vi o homem largar-me e cair mesmo aos meus pés. Aproveitei e afastei-me correndo até chegar à beira da porta. Engoli em seco e olhei o George. - Vamos fugir... - disse entredentes.

Observei desfocadamente, devido a lágrimas, para o sangue que escorria das feridas do homem que falecia lentamente mesmo à minha frente. Eu fiz isto? engoli a seco.
-Espera! - gritei e estiquei-lhe o braço quando ouvi a proposta dela - Não podemos deixá-lo aqui... - por causa da merda de uma violação... nunca ouviste falar em polícias, george?

Olhei o homem cheio de sangue e depois olhei para George enquanto sentia uma pequena lágrima correr-me pelo rosto. - Mas vão pensar que nós... o matámos... - murmurei engolindo em seco.

Olhei para o corpo mais uma vez , em seguida para o seu reflexo no espelho.
-E matámos mesmo... - disse com uma voz rouca.

Abanei negativamente a cabeça. - Não matámos nada... não pode... - disse com a voz a tremer. - Chama uma ambulância ou assim... - pedi.

Senti-me a tremer e nervoso, aquilo não estava a acontecer. Abanei a cabeça lentamente.
-Não podemos... seremos presos... - recusei sem desviar o olhar do reflexo do corpo, no espelho.